Estava em passeio lá pelas regiões do lago Paranoá. Num
daqueles recantos mais afastados do centro da cidade de Brasília. Fui dar umas voltas com as cadelas, duas, da
casa da chácara onde morava um de meus filhos.
As cadelas eram muito amistosas, mas acostumadas a latir
com tudo o que passasse por lá, até mesmo com os pássaros que pousavam nas
gramas.
Um dia surpreendi as duas acuando uma coruja. Enorme
coruja.
Eu me aproximei naquela “tarde-noite” para ver o que
estava acontecendo. Elas poderiam estar em perigo atacando algum bicho
peçonhento, mas não era isso. Era a coruja, deitada de costas para o chão,
exibindo suas grandes garras em defesa de sua vida. Adverti-as para que se
afastassem e me aproximei em auxílio à coruja e percebi que ela estava apenas
muito assustada, porém mantinha suas asas abertas, em curva, embora estivesse
deitada. Isso a fazia parecer uma ave grande, o que assustava as cadelas. Até
eu mesmo fiquei com receio de suas garras e de seu forte bico. Não queria me
aproximar para não assustá-la mais ainda, todavia desejava saber se ela estava
bem. Enquanto isso eu acalmava as amigas “cãs”, se é que posso chamá-las assim,
para não chama-las de cadelas, pois ficaram minhas amigas.
Tive então a ideia de pegar uma vara de bambu que estava
ali pelo chão e estender até as garras da coruja que não demorou em agarrá-la.
Como ela se agarrou bem, no bambu, eu a suspendi até um galho de árvore, de
modo que não pudesse ser alcançada pelas aparentes feras. Não quis perturbá-la,
então a deixei imóvel da mesma forma que estava no chão, antes de subi-la para a
árvore. Estava tão assustada que continuou na mesma posição de defesa, quando a
coloquei na árvore, isto é, deitada de costas para baixo, e garras para cima.
Minhas amigas “cãs” se limitaram a observar com atenção o
que eu estava fazendo, e não perturbaram mais a coruja que logo descobriu que
estava livre e foi embora.
No dia seguinte observei que alguns pássaros, maiores um
pouco, ou aves como a coruja que pousassem nas cercanias da casa eram espantadas
por elas.
Adotei a postura de corrigi-las e sentar-me ao chão para
simplesmente admirar a natureza. Os pássaros que se achegavam eram apenas
amigos que compartilhavam conosco o mesmo espaço e não foram mais perturbados
por elas.
Em outro momento saí para uma caminhada com aquelas
amigas, segurando-as em suas coleiras, para evitar alguma surpresa durante a
caminhada, pois ainda não estava acostumado com elas o suficiente. Havia
naquelas redondezas uma chácara que produzia frutas, legumes, verduras e lá fui
eu para conhecer, comprar e levar alguma novidade para casa.
Soltei as cadelas de suas coleiras, porque elas eram
obedientes, dóceis com as pessoas, então não vi nenhum perigo em mantê-las
assim por um trecho do caminho, para que elas usufruíssem dele como um recreio.
Ao aproximarmos de uma cerca havia uma vaca pastando
calmamente do outro lado da pequena estrada. Não demorou ser avistada pelas
“amigas” que de imediato puseram-se no seu encalço, expondo o natural instinto.
Foram então advertidas novamente e a vaquinha continuou
sua pastagem sem dar muita importância a elas. Acredito ter adivinhado que
aqueles latidos eram de cães que não mordem.
Chamando-as severamente, elas se postaram a meu lado, e
nos limitamos apenas a observar aquele belo animal. Creio que foi novidade para
elas conhecer aquele espécime diferente.
Acredito que os animais captam com muita facilidade o
humor das pessoas.
Da mesma forma acredito que o humor humano contagia outro
humano.
Alegria passa alegria...
É preciso não perder de vista que devemos retomar sempre
o estado psíquico de bom humor para com a vida, pois ele dá melhor resultado em
tudo o que vamos fazer.
Evaldo de Paula Moreira
Reflexões