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terça-feira, 12 de julho de 2011

“Você só aprende o que já sabe”. - Conto de filme





Sempre gostava de assistir à série do filme Kung Fu.

Por vários motivos.

Uma das coisas que mais me encantavam era a filosofia de vida do oriente, com seus milenares ensinamentos.

Viver a vida de maneira comum, conforme vivia Caine, fora dos muros do Templo  Shaolin, depois de ter estado lá, por muito tempo, é uma façanha desafiadora. O mundo dentro do templo parece-me de muita paz, conforme demonstra todo o seriado.

Vivemos, todavia, no ocidente e o jeito é enfrentar o mundo fora dos muros, usando o corpo como o próprio templo, onde recolhemos o espírito, em confortos momentâneos.

A lembrança que trago aqui é de um dos ensinamentos daquele seriado de tv, da década de setenta. Ainda é motivo de meditação para mim.

Num dos filmes, Caine aparece numa fila de meninos, que igualmente a ele esperavam uma oportunidade em frente ao portão do templo budista para serem atendidos em suas vontades de serem monges.

Acontece que as horas foram passando e como ninguém abria o portão para atendê-los, os meninos iam abandonando a fila, um a um. Caine, entretanto, manteve sua calma e esperança, enfrentando as intempéries, com sol, chuva e fome. Ficou sozinho, quando de repente aparece um monge calmamente depois de abrir o portão. Postou-se perante o menino e perguntou docilmente: o que você deseja meu filho?

O momento é de suspense porque a pergunta do monge era um teste muito forte para Caine responder com sabedoria. Muito jovem, ele responde com simplicidade:

                                            - Desejo entrar para o templo.

Pergunta de novo, com bondade, o monge:

                                            - E por quê?

O suspense continua e o menino responde com a mesma simplicidade:

                                            - Para aprender as coisas.

Ao que redargüiu o mestre Shaolin:

                                            - Você só aprende o que já sabe.

Após uma pequena pausa, embaraçosa para o menino que ficou pensativo sem saber o que falar, o monge demonstra com seu olhar de bondade que viu nele alguém fadado a ser monge também, e o acata carinhosamente para dentro do templo, estendendo seu braço sobre seu ombro, levando-o para dentro dos enormes portões, onde morava sua esperança.

Dessa estória ficou um grande questionamento budista (penso eu): nós só aprendemos aquilo que já sabemos.

A questão é intrigante, porque podemos perguntar: então para que existe a escola?

Já reparou que as pessoas só terminam cursos quando estão preparadas para eles?

Viu como um pedreiro quando tem vocação aprende facilmente a assentar tijolos?

Creio que a função da escola é nos ajudar a descobrir o que já sabemos. É um grande ambiente para se compartilhar conhecimento entre os alunos e também entre alunos e professores. Pelo menos deveria ser assim, acredito. A vida vale mais a pena se compartilhada, se amealhados os conhecimentos.

A escola é lugar de descobertas de nós mesmos, de chancela de conhecimento, de produção de diplomas, rótulos sociais que ainda são necessários ao desenvolvimento humano.

Isso me faz lembrar o filme “O Mágico de OZ”, onde o mágico dá de presente um diploma da sabedoria ao espantalho que desejava ter um cérebro; um título de corajoso ao leão que tinha medo e queria ser corajoso e um coração tipo relógio ao homem de lata que desejava tanto ter um coração. Mas esse é outro assunto, que vale uma estória à parte.

Daí, posso concluir que quando desejamos aprender alguma coisa é porque já sabemos.

É quando manifestamos nosso talento.

Isto é somente uma divagação de meu pensamento. Em filosofia não existe verdade absoluta. 

Existem buscas das verdades, muitas delas reformuladas de quando em quando. 

Então cada uma acomoda-se ao seu tempo e somente para ele.



Juiz de fora, 11 de julho de 2011.
Evaldo de Paula Moreira
Conto - Reflexões
                                           





7 comentários:

josé roberto balestra disse...

Evaldo, certa vez vi essa frase do monge em algum lugar e, sinceramente, não a entendi, embora me esforçasse.

Veja como e a vida; hoje, aqui em seu conto de reflexão, com essa maneira simples de explicar, você conseguiu fazer-me entender o real significado da frase "Você só aprende o que já sabe.": o DOM que o Creador iluminadamente nos dá a cada um de nós diferente, que é pra derruir alguma jactância que se queira botar pra fora certas horas da vida... Muito boa mesmo sua reflexão. abs

Suzy disse...

Também gostava de assistir Kung Fu e curtia demais os ensinamentos do Mestre Pô.

Cissa Romeu disse...

Evaldo, tudo bem?
Primeiro, muito obrigada por colocar meu blog na tua lista de leitura! Agradecida.
Quanto ao teu post! Que maravilha de texto! Fluente, dá gosto de ler! Lembrei do Kung Fu! Tinha mesmo muitos ensinamentos por ali.
Mas a questão toda é a vocação mesmo! fazer o que se gosta, e geralmente é fazer o que se sabe, e de uma forma inexplicável é como se já a soubessemos antes de aprender!
Muito bom!
Parabéns! Ótima quinta-feira!

Humoremconto
http://anaceciliaromeu.blogspot.com

V.Cruz disse...

Belissima reflexão! Somos da geração que pensava acerca da existencia...também vi esse filme várias vezes...nos ensinamentos espiritualistas, dizem que tudo aquilo que aceitamos como verdade sem questionar é porque já havia sido aprendizado anterior, apenas, relembramos...mas, nossa alma borbulha por novos aprendizados e partimos em busca deles, haja questionamentos...
Muito bom, como sempre!
Abraços poéticos

MA FERREIRA disse...

Olá..passei só pra deixar um abraço comemorando o dia do amigo..volto para ler a postagem..
bj
Ma

Suzy disse...

Evaldo, passando para agradecer seu carinho e amizade.
É sempre bom saber que somos queridos por quem a gente também admira.
Abraço ;)

Cida dos Santos disse...

Evaldo,
Que lindas lembranças pude ter ao ler seu texto, pois eu também sou da geração que curtia o filme Kung Fu. Muito pertinentes suas reflexões sobre a aprendizagem, a forma como ela se dá. Por certo nós, professores, mais do que ninguém temos que entender essa dinâmica, o compartilhar conhecimentos, que é muito mais do que meramente transmitir.